Uma pilha de papéis A4 em branco na escrivaninha, lapiseiras, marcadores, um moodboard na parede recheado com referências, post-its com palavras-chave, mapa-mental, canva. Mesmo com o cenário perfeito, aquela ideia incrível não vem. Enquanto isso, com o dedo rolando a tela do Instagram, aparece um feed cheio de marcas bacanas que você segue por inspiração e, é claro, para ficar de olho na concorrência. A cada novo post, uma nova onda de ansiedade, e uma expressão que vem à mente: bloqueio criativo.
Se identificou?
Sim, a internet está recheada de recursos e receitas para desbloquear a criatividade: mais horas de sono, uma caminhada, mudar o foco por algumas horas, trocar de mídia, manter um sketchbook. Todas práticas que ajudam a melhorar a qualidade de concentração, liberam espaço na mente e promovem maior bem-estar. Porém, nenhuma ajuda a solucionar o problema quando o objetivo é otimizar o processo criativo do design.
Hoje, após ter vivenciado o processo criativo dentro de diferentes ambientes e países - passando por universidade, estúdios e indústria, entre Brasil e Europa - consigo identificar três grandes barreiras, ou “erros" que eu costumava cometer e que podem estar drenando sua criatividade para moda ou design.
Que o Pinterest e Instagram são fontes inesgotáveis de referência, você já sabe. Qual o problema em utilizar essas plataformas que já são parte da nossa rotina diária? Todos estão fazendo o mesmo. Claro, o algoritmo das plataformas entrega conteúdos personalizados por usuário, mas o quão diferente pode ser essa entrega dentro de uma demografia similar? Se você segue contas relacionadas à moda, design, e indústria criativa, por exemplo, não é difícil de imaginar que o conteúdo que você receberá será similar àquele que outros designers recebem em sua aba “explorar”.
Além disso, utilizar o "agora" como fonte de pesquisa gera um efeito rebote: quando seu produto for ao mercado, terá uma estética de “vi-muito-no-Instagram-ano-passado”. O que pode funcionar para algumas marcas que se posicionam entre um público que adota tendências de forma mais tardia, mas não funciona se você quiser se manter original.
Por fim, inspirar-se em produto atual e concluído significa que você está vendo apenas o resultado de uma pesquisa que já foi muito mastigada e traduzida desde a fonte original. Outras fontes de pesquisa muito mais ricas e menos acessadas são as fontes analógicas, que nos proporcionam imagens raras, como livros, arquivos de museus, exposições, o baú de fotos da sua família, jornais…
A segunda barreira da lista diz respeito a maneira como você expressa suas ideias. Se você pula direto da pesquisa para o desenho, talvez esteja perdendo a chance de explorar outros caminhos que proporcionariam estudos interessantes de forma, cor, material e detalhes.
O desenho é uma ação de tradução direta, com controle total entre cérebro e mão, não dando chance para seus olhos testarem pequenas variações rapidamente. Um exemplo de técnica que proporciona essa facilidade é a colagem, que permite mais facilmente a manipulação de formas.
Além disso, mesmo que você goste de desenhar, pode ser que você seja muito mais criativo em 3d. Eu descobri, após 5 anos criando exclusivamente em desenho, que funciono muito melhor fazendo testes com tecido e manipulando essas amostras diretamente no meu corpo. Uso o desenho como recurso final, quando estou feliz com alguma exploração, para detalhar a ideia e de fato explicar como ela funcionaria em termos de construção.
A terceira barreira se conecta à segunda. Vi muitos estudantes de moda sentarem diante de seus painéis de referência, desenharem 200 croquis no espaço de alguns dias, e destes 200, selecionarem aqueles 8-20 que formariam uma coleção. Não houve espaço para explorar a materialidade do trabalho.
A experimentação está diretamente relacionada a testar ideias em 3d, à troca com o material, ao vestir, torcer, girar, abrir, rasgar, cortar e fotografar. Depois de muitos testes, só então me sinto pronta para de fato investigar como um daqueles experimentos poderia se transformar em um design finalizado.
Identifiquei as barreiras, e agora?
Estas são apenas 3 das principais barreiras que identifiquei pela minha experiência. Ainda há muitas outras, mas isso vira assunto para um próximo post! É importante lembrar que processo criativo não é uma receita, e não há um único método que funcione para todos. Porém, é muito gratificante descobrir onde sua criatividade se expressa de forma mais natural.