Entre tantas mudanças causadas pela pandemia, o excesso de trabalho foi o que mais se acentuou neste período. Muitas pessoas acabaram perdendo o emprego ou tendo realizar algumas mudanças drásticas - de casa, de trabalho ou nos hábitos. Fato é, quem seguiu no mercado ainda teve que lidar com outras transformações. Trocar o local de trabalho pelo home office, tentar manter a mesma produtividade nas demandas, conciliar as tarefas com a organização da casa e ainda dar atenção aos filhos. Sem romantização do excesso de trabalho, sabemos que nenhuma mulher é supermulher e é quase impossível dar conta de tudo. Qual é o preço desse esforço em trabalho domésticos?
Segundo pesquisa realizada pelo Think Olga, ao todo, mulheres gastam em média mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no Brasil. Economicamente falando, esse esforço equivale a 11% do PIB. A “economia do cuidado” - como é chamada pelo estudo - reflete a desigualdade de gênero. Embora os homens contribuam com os trabalhos domésticos, eles gastam muito mais horas em trabalhos que são remunerados. O trabalho não pago das mulheres equivaleria a 10,8 trilhões de dólares, e, de acordo com essa estimativa, apenas 4 economias mundiais estão acima desse valor - China, EUA, União Europeia e Índia.
Além de ser invisibilizado, esse trabalho não-pago tem influência direta na carreira das mulheres. Trazemos um exemplo real, durante a pandemia: a produção acadêmica de mulheres diminuiu, especialmente para aquelas que têm filhos. Enquanto isso, no mesmo período, a quantidade de artigos feito por homens teve um crescimento. Problemático, não? Esse exemplo reflete a liberdade de escolha que, muitas vezes, as mulheres são privadas ao longo das suas vidas. Ainda que hajam conquistas a serem celebradas, é preciso trazer essa pauta à tona. Afinal, quantas mulheres são necessárias para construir a ascensão profissional de alguém?
Sabemos que muitas perguntas sobre desigualdade de gênero seguem sem solução a curto prazo. Então, resolvemos trazer algumas dicas práticas que podem ajudar quem está nesta jornada tripla.
Hoje em dia, existem muitas ferramentas e aplicativos que podem ajudar a manter a rotina mais organizada. É claro, há quem prefira papel e caneta em mãos. Digital ou analógico, o essencial é listar todas as tarefas e separá-las de acordo com a prioridade. Nessas horas, vale aplicar o método Kanban. Nele, criam-se colunas com o que deve ser feito; o que está em execução e o que foi concluído. Assim, a gestão das tarefas fica mais prática, organizada e visual. Quem quiser descobrir outras formas de organização, é só acessar esse post no nosso Instagram.
Não tenha vergonha de pedir ajuda e contar com uma rede de apoio. Aliás, leve a discussão para dentro de casa e tente distribuir as tarefas de forma igualitária. Pensando em reduzir as desigualdades de gênero e sobrecarga feminina, a ONU Mulheres Brasil lançou a campanha #ElesPorElasEmCasa. A campanha digital tem como objetivo o envio de fotos de homens realizando tarefas domésticas para mostrar como eles estão lidando com a pandemia e contribuindo nas relações de gênero dentro de casa.
Estamos vivendo uma pandemia, não há fórmula certa ou um manual de regras de como cada um deve agir. Nem sempre a casa vai estar impecável, e tudo bem.
Uma forma de ampliar o debate sobre a desigualdade nas tarefas doméstica é levar o assunto ao ambiente profissional. O RH pode sugerir campanhas internas para mostrar o quanto a jornada tripla das mulheres é desproporcional quando comparada ao dos homens e, também, incentivar a participação deles nessas atividades não remuneradas. Enquanto caminhamos em pequenos passos, as empresas podem contribuir para atuar de forma mais justa e prática na vida das mulheres.