A aliança entre as mulheres é uma das mais eficientes práticas na luta pela equidade de direitos sociais, políticos e econômicos. Conhecida como sororidade, esse conceito engloba muito mais do que apenas a união: é a empatia, a solidariedade, o companheirismo e o respeito entre mulheres.
Conversamos com a Paula Roschel, jornalista de moda e autora do livro #sororidade - quando a mulher ajuda a mulher, que nos contou um pouco mais sobre a sua descoberta no feminismo, o processo de escrita do livro e o quão libertador foi incorporar a sororidade em sua vida. Confira abaixo e se inspire!
1. Qual foi o impacto da sororidade na sua vida e cotidiano?
A sororidade foi uma explosão de liberdade que impactou positivamente o meu dia a dia! Eu tinha receio de confiar em outra mulher, na adolescência, pois acreditava na falácia de que mulher não poderia ser verdadeiramente amiga de outra. Isso nem era tão consciente. Era algo velado, mas que gerava uma espécie de solidão constante. Quando tive contato com o conceito de união entre mulheres através dos laços de amizade, comecei a visitar a minha memória e perceber que já tinha ajudado e sido ajudada por muitas mulheres incríveis e inspiradoras. Foi como virar uma chavinha no meu cérebro para uma corrente de otimismo que carrego até hoje e faço questão de disseminar.
2. Qual o maior desafio no processo de desmitificação dos termos "feminismo" e "sororidade" que você encontrou durante sua pesquisa?
Se você sai da bolha de pessoas já confortáveis com os termos, sinto que tem muita mulher com medo de se assumir feminista até hoje. E eu entendo alguns dos motivos, pois quando eu estava descobrindo o movimento eu também senti medo de não saber o que ele era direito, de repelir pessoas que não gostam da palavra ou de não ser aceita por feministas com “mais anos de estrada”. Mas a melhor forma de quebrar o gelo é se abrir, sem preconceitos, para as raízes dos movimentos. O feminismo busca a equidade de gêneros. É a mulher não sendo colocada para trás apenas por seu gênero. E nisso a sororidade pode se uma grande aliada para, através da união, do carinho, do suporte e da conversa, mostrar que não estamos sozinhas e nem loucas de não achar legal ganhar 30% a menos que um homem para desempenhar a mesma função ou que sofrer ameaça e agressão é algo ok em um relacionamento. Eu posso dizer, finalizando, que foi a sororidade, através da fala de amigas e até desconhecidas, que me levou a entender o feminismo. Acho que o maior desafio é perder o medo de conceitos que estão aí para nos ajudar e ajudar a sociedade de forma global.
3. Como foi o processo de seleção das 500 mulheres entrevistadas?
Eu sempre gostei do universo online. Sou jornalista de sites e portais e sempre interagi com as leitoras, ensinando e aprendendo muito! Boa parte do processo de seleção foi através dessa audiência. Outra parte aconteceu através de grupos em redes sociais que não tinham o feminismo como tema central, para tentar entender o que mulheres das mais distintas realidades se sentiam sobre certas questões práticas da união feminina. Além disso, em uma segunda fase, entrevistei especialistas. Promotoras, psicólogas, delegadas, advogadas, médicas e empresárias. Era o momento de ter uma visão mais técnica sobre violência contra a mulher e seus impactos, sobre direitos, saúde e gestão. Depois, em um terceiro momento, eu coloquei todos esses dados na mesa e tentei traçar paralelos de como colocar, em uma linguagem bem simples, um caminho para que as mulheres alcançassem uma melhor qualidade de vida.
4. Pra você, qual a importância do feminismo e da sororidade na esfera econômica?
Você incentivar uma mulher a estudar, a se qualificar, a ter autonomia sobre seu corpo e suas escolhas faz com que ela esteja mais preparada para alcançar melhores resultados em sua vida profissional. Isso respinga completamente na esfera econômica, uma vez que somos uma parcela significativa da população que faz essa economia girar. A sororidade dentro do ambiente de trabalho promove momentos de mentoria muito mais genuínos, além de criar uma troca sincera de expectativas e planos. Isso também beneficia a qualidade de vida daquela colaboradora, que se sente mais segura e amparada. Além disso, tirar o machismo de cena faz com que mulheres já altamente qualificadas possam exercer papéis estratégicos em uma empresa e também na sociedade, por conseguirem cargos melhores e mais lugar de fala.
5. Você acredita que algum dia alcançaremos a igualdade salarial entre gêneros?
Eu tento ser otimista, apesar de saber o tamanho do desafio. Mulheres em uma posição de privilégio enorme, como atrizes de Hollywood, sofrem para ganhar cachês equivalentes. Grandes atletas passam pelo mesmo cenário. E as pessoas que não estão na mídia? O caminho é ainda mais massante. Por isso que algo do tipo só sairá do campo das boas ideias e intenções se for colocado em prática através de políticas públicas, privadas e, claro, nossa união, pressionando o mercado, a política e a sociedade para que algo aconteça. Mas, infelizmente, ainda temos longos anos pela frente.
6. Qual é o seu conselho para as mulheres que estão começando a quebrar as barreiras sobre o feminismo?
Dê tempo ao tempo. O começo vem com algumas dúvidas e até um certo desconforto. Você talvez perceba que já esteve em um relacionamento abusivo, que já errou muito e julgou outra mulher pelo simples fato dela ser mulher. Você talvez ache que não mereça ser chamada de feminista porque não leu pilhas de livros sobre o tema ou participou de marchas. Mas não é assim! Feminismo é algo muito mais próximo da gente do que você pode imaginar. Se tiver dúvidas, pergunte, busque informações, peça ajuda para clarear as ideias. Passado esse primeiro momento de rompimento de antigos padrões você vai perceber que não está tão só quanto um dia imaginou. Também gosto de sugerir um exercício bem simples: faça uma lista de cinco momentos da tua vida que alguma mulher te ajudou ou te fez se sentir bem. Podem ser coisas bem simples, como o dia em que recebeu algum elogio que mudou o humor. A partir disso, retribua. Escolha cinco amigas ou conhecidas e fale uma palavra de carinho, compre de uma pequena produtora ou ajude uma instituição que apoia mulheres em situação vulnerável. Sinta o lado positivo das ações e perceba que essa rodinha de afeto girou para o seu bem-estar e o bem-estar das outras. Isso é um começo. E é um ponto de partida muito interessante para você sentir na pele o poder da sororidade e o poder prático da frase “juntas somos mais fortes”.
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