Se para uma mulher branca o mercado de trabalho já é difícil, tente ser mulher e preta. Antes de pensarem a qualidade do trabalho da mulher preta, enxergam a cor da nossa pele. E isso cada vez mais nos coloca em um lugar de invisibilidade social. A nossa história é permeada por dois sistemas de opressão: o machismo e o racismo. Estamos sempre em último lugar na escala social.
Dar visibilidade ao trabalho de mulheres pretas é fundamental na luta antirracismo. Não podemos generalizar as mulheres na luta feminista, precisamos pensar nas particularidades das pessoas pretas. Não temos as mesmas chances de ascensão social, nos negam direitos de uma vida digna, temos menos oportunidades, menos acesso à educação e saúde. Somos representadas como se só pudéssemos seguir um único caminho: o de servir pessoas brancas.
Quando olhamos a nossa história ancestral, vemos as mulheres sendo escravizadas, sempre na função de servir, e seguem perpetuando essa imagem. Isso acontece a partir da representação de pretas em mídias, sempre da mesma forma; das portas fechadas do mercado de trabalho; da hiperssexualização do corpo negro, entre tantas outras formas. Isso tem reflexo na nossa constituição enquanto mulher, do nosso olhar sobre nós mesmas e, como subproduto, nossos sofrimentos.
Quando divulgamos o trabalho de mulheres pretas, possibilitamos que mais pessoas tenham acesso ao serviço, ao mesmo tempo em que criamos uma rede de representatividade. Mostramos que as mulheres pretas estão por toda parte e que elas PODEM sim atuar de diversas formas no mundo. Precisamos de MUITO mais para que as mulheres pretas tenham oportunidades de ascender na escala social: é preciso entender a condição social do racismo, que permeia toda essa estrutura. Precisamos ser selecionadas com base em nossa capacidade de realizar um trabalho e não excluídas pela nossa cor.
Apesar desse panorama, a movimentação nas redes sociais nas últimas semanas permitiu trazer mais visibilidade ao conteúdo e serviços que mulheres pretas têm produzido. É preciso promover espaços para que o trabalho delas sejam divulgados e consumidos. É necessário promover o trabalho de mulheres pretas e contribuir para que elas saiam dessa invisibilidade imposta, sempre preteridas no mercado de trabalho, na prestação de serviço e na oportunidade de ser, criar e falar. Espero que essas ações de dar espaço gente preta falar permaneça, e que cada dia se faça mais para que possamos ver nossas iguais ocupando todos os espaços.
Fotos: Philipp Raheem