Os últimos quatro artigos aqui para o PUSH registram um mês de experiências em diferentes formatos de trabalho: startup, ONG, trabalho remoto e permuta. Essa experiência reforçou a crença de que só quando nos propomos a experimentar e viver na pele diferentes rotinas é que entendemos como aquilo se encaixa ou não na nossa vida. Mais que isso, quando identificamos diferentes estímulos e componentes em cada uma das realidades, podemos misturar elementos e criar caminhos únicos com o que faz mais sentido para a gente.
Colin Wright escreveu uma vez que para criar conteúdo de qualidade devemos viver uma vida interessante sobre a qual muitas pessoas querem ouvir. E é o que nos propomos a fazer com a volar: desmembrar o futuro do trabalho e entender, diariamente, como combinar o que existe com o que ainda estamos criando para possibilitar trajetórias flexíveis e adaptadas aos milhares de perfis profissionais que existem e se transformam a todo o momento.
Por isso, nosso último artigo da série é sobre nosso próprio aprendizado: coisas que a volar nos ensina todos os dias sobre empreendedorismo, viagem e mudança. Desafios de criar projetos no exterior, de desbravar uma nova cultura e de nutrir uma rede de contatos inteiramente conhecendo poucas pessoas, ou ninguém. Possibilidades que surgem por estarmos fora, cheias de vontade e juntas. Um pouquinho de inspiração para quem quer se aventurar em terras desconhecidas e mudar o mundo.
Sem mais delongas:
Nada disso significa mudar quem a gente é ou a mudança que queremos causar no mundo, mas a partir do momentos que saímos da nossa zona de conforto, temos que entender o que muda. Aqui em Portugal, por exemplo, o ritmo de trabalho não é o mesmo: as reuniões devem ser marcadas com mais antecedência e não adianta tentar resolver o que for fora do horário útil ou no fim de semana - a flexibilidade que vemos no Brasil, por exemplo, aqui é mais rara.
Nossas movimentações passam a ter implicações globais: seguimos trabalhando com o nosso público, mas agora atuamos localmente. É em Lisboa que participamos de eventos e obtemos novas referências. Nunca limitamos a volar a esse universo, mas é natural que as pessoas nos procurem para dúvidas relacionadas à vida e ao trabalho aqui. É uma nova associação da nossa marca: as meninas que falam de futuro do trabalho em Portugal.
Pra gente faz sentido porque defendemos a liberdade de estar onde quisermos, mas é uma nova variável que hoje faz parte da nossa comunicação e que deve ser considerada nos planos de mudança.
Há diferenças fundamentais entre contatos (pessoas que conhecemos e com quem conversamos esporadicamente) e conexões (com quem mantemos um diálogo aberto, que conhecem nosso negócio e objetivos e ajudam em novas movimentações e avanços). Já criamos algumas pontes que não tivemos energia ou mesmo interesse em manter - e isso diz muito sobre quem abordamos e por quais motivos. As melhores pessoas que conhecemos hoje vieram de esforços intencionais e calculados, pensando no futuro da volar e em pessoas ou habilidades relevantes para o negócio.
Expandir nossa rede de contatos exige energia, momentum e um pouquinho de intuição. É preciso ler bem o ambiente, entender quem se conecta com a gente e encontrar o equilíbrio exato para o benefício mútuo. Duas pessoas essenciais para estabelecer a volar foi o Greg, que chegou até a gente pelo LinkedIn e com quem temos conversas periódicas sobre o futuro e o papel da tecnologia em como tangibiliza-lo, e a Maria, portuguesa responsável pela operação de uma incubadora de negócios que nos ajuda com questões burocráticas e culturais.
Essas conexões, entre tantas outras, fazem valer a pena todo o tempo e energia que dedicamos. Conhecer as pessoas certas permite não só agregar no crescimento do negócio, mas também transformar o seu rumo: abrindo portas, conectando pessoas e habilidades ou até mesmo apresentando uma nova lógica de pensamento através de questionamentos novos e provocações.
Uma das coisas mais difíceis de empreender é ser objetivo com relação a quem você é, o que faz e onde quer chegar. Primeiro, porque é complexo e, depois, porque muda o tempo todo. Principalmente quando estamos no exterior e somos desconhecidos para boa parte das pessoas no nosso meio, apenas demonstrar intenção não é o suficiente. É preciso estampar na testa o que estamos fazendo e o que precisamos para chegar mais longe. Esse é o motor por trás das conexões que fazemos, dos eventos que participamos, das conversas que temos.
A MJ e a Nat se conheceram desse jeito. Ambas interessadas em criatividade e inovação, participaram de um evento do Creative Mornings. Eles têm um quadro de “tenho x, preciso y” que a Nat usou pra escrever sobre o projeto dela de criação de marcas humanas e liberdade para caminhos únicos. Não fosse essa intenção no mundo, a MJ não teria entrado em contato para conversar sobre uma dificuldade (branding) e uma oportunidade (tocarem a volar juntas). Se ninguém te conhece, tudo o que sabem é o que você expõe - então esclareça tudo: nada é subentendido.
Uma das grandes vantagens de estar no exterior é a distância que se cria de quem a gente conhece e de toda a expectativa gerada por estar empreendendo. Não entenda mal: estar longe é ruim por vários motivos - mas se tem um lado positivo é abafar o barulho externo e permitir que a gente foque na gente. Isso não significa que as pessoas não estão interessadas ou mesmo deixam de perguntar, mas não existe o contato constante e isso nos permite respirar - e andar nas nossas próprias pernas - a maior parte do tempo.
O que é uma vantagem para a gente serve de dica para quem tem projetos “em casa”. Essas pessoas, além do barulho e das cobranças (explícitas ou não), contam com uma rede gigante de suporte e amor muito mais próxima. Entender de onde vêm as forças e os cansaços e filtrar o que tem ou não espaço no dia a dia é uma habilidade importante. Isso serve para nossa dinâmica com famílias e amigos e também para o que acontece na nossa própria cabeça: se deixarmos de lado os “deveria” ou “poderia”, conseguimos ver onde estamos e para onde estamos indo - que é o que realmente importa e onde nossa energia vai ser melhor recompensada.
Por último, é natural a gente se sentir deslocada e tendo que se adaptar aos estímulos de uma nova cultura enquanto identifica o que é melhor para o negócio e executa da melhor forma. Entretanto, não podemos esquecer que todas essas escolhas foram nossas (empreender, mudar para o exterior e todas as particularidades envolvidas) e que é o novo ambiente quem nos recebe. Lembrar disso retoma a percepção de que mesmo quando são muitos os desafios, ainda é nosso papel entender o lugar do outro, se adaptar e ser receptiva a tudo o que faz parte dessa jornada. Sair “de casa” coloca muitas coisas em uma luz nova, uma perspectiva de que tudo é um presente e de que, onde quer que estejamos, são pessoas que nos fazem amadurecer e que transformam nossa experiência.
A combinação de tudo o que vivemos na volar com aquilo que aprendemos em cada uma das imersões passadas, além de todas as referências que vêm dos nossos parceiros e das conversas sobre empreendedorismo, transição e mundo nos mostram que a energia de criar está em todo o lugar. Cada vez mais, o propósito de canalizar essa vontade em caminhos únicos e trajetórias livres faz mais sentido para a gente, porque percebemos que assim como nós, outras pessoas sonham em experimentar - e isso é algo com o que podemos ajudar.