As idealizadoras do Criando Crianças Pretas, Deh Bastos e Paula Batista, são as nossas colunistas mensais sobre comunicação antirracista. Elas são especialistas no assunto e prepararam uma pauta sobre um tema super atual e urgente. Confira abaixo como você pode fazer a sua parte!
Você provavelmente já ouviu e falou essa frase, principalmente nos momentos em que estava do lado mais fraco. Hoje a gente escreve este artigo para te lembrar quem é de fato o lado mais fraco nessa pandemia de COVID-19.
Quando abordamos este tema em algumas redes sociais, as pessoas costumam dizer que “não tem lado mais fraco, estamos todos no mesmo barco” e eu vou te dizer que o barco pode ser o mesmo, porém algumas pessoas estão na classe executiva, outros estão na primeira classe e uma enorme população está no porão.
Nós, pessoas privilegiadas que temos acesso a um plano de saúde e que trabalhamos em grandes empresas que estão liberando o home office, e também nós, mulheres empreendedoras que podemos tocar nossos negócios de casa, muitas vezes acabamos nos esquecendo de um pessoal que não tem privilégio nenhum. E essas pessoas estão intrinsicamente relacionadas conosco, veja só.
A empresa autorizou home office, mas não dispensou a ultraprodutividade
Que bacana e modernona essa empresa que liberou todo mundo para trabalhar em casa! Mas aí você se viu enlouquecida com crianças, marido, pais, irmãos, ou seja, todo mundo ocupando a mesma casa, fazendo muita bagunça, muita sujeira, muito barulho e você tendo que ser produtiva.
Muitas famílias, nesse momento, optaram por pedir um help para aquela diarista super competente, que em poucas horas dá jeito em toda bagunça, cuida das crianças, faz comida e tudo com o sorrisão no rosto. Ou mesmo aquela maravilhosa funcionária que nunca te deixa na mão.
Porém, essas pessoas, muitas vezes, não possuem um plano de saúde e seus familiares também não. Elas chegam nas casas utilizando o transporte público, local que não há nenhuma limpeza ou higienização regular, correndo o risco de pegar o vírus e espalhar para milhares de outras pessoas que não têm nem como fazer o teste do coronavírus.
Que tal usar do seu privilégio e dividir a tarefa da casa com as pessoas que convivem com você? Que tal dispensar essa mulher e garantir a ela o pagamento antecipado do salário para que ela não fique com medo de não receber ou de perder o emprego? Ela, provavelmente, também está com a família em casa e sem coragem de te pedir que a dispense... Quando a corda arrebentar, ela com certeza estará do lado mais fraco.
Dispense seus funcionários e garanta seus salários e emprego, exija que o condomínio onde você mora diminua o número de funcionários. Seja solidária!
O empreendedorismo de sobrevivência
Outro grupo de pessoas que há um bom tempo já está sentindo a corda estourar é o dos funcionários de aplicativos e trabalhadores por conta. Não estou falando de você, mana empreendedora, estou falando da galera que está na informalidade, que não pode parar e se não sair cedo para trabalhar, não receberá no fim do mês.
Eu fico imaginando a quantidade de motoristas de aplicativos que estão com coronavírus e não estão indo fazer o teste para não pararem. E você deve estar pensando: o que eu posso fazer por essas pessoas?
Um dos aplicativos de transporte informou que oferecerá assistência financeira durante até 14 dias para os colaboradore diagnosticados com o COVID-19. Mas para isso acontecer, essas pessoas precisam conseguir fazer o exame. Se você tiver condições, ajude as pessoas que apresentam os sintomas a cuidarem da saúde e a fazerem o exame no sistema particular, já que no sistema público a realização está restrita. Se você tiver acesso, cobre das outras empresas um posicionamento e uma ação para proteger o rendimento dessas pessoas.
Se você estiver próxima desses “autônomos”, ofereça ajuda para ficar com as crianças que não estão indo para a escola. Indique para a sua rede brincadeiras e atividades que as pessoas possam fazer com as crianças em casa.
Se você iria em um evento que teve a programação prorrogada, considere aceitar a prorrogação e não solicite o dinheiro de volta. Há milhares de produtores culturais, de feiras e eventos que estão arcando com muitos prejuízos por conta desse pandemia.
Soluções para as questões financeiras, não temos muitas, mas há um aplicativo chamado Itsnoon em que pessoas podem responder os desafios e ganhar dinheiro. Nós, privilegiadas, podemos criar desafios ou doar dinheiro para desafios existentes. E se você não tiver nenhum dinheiro, pode entrar no aplicativo, cultivar girassóis e doar esses girassóis para quem precisa.
Ofereça informação de qualidade, instrua essas pessoas a manterem a higiene, a manterem a saúde mental e não entrarem em pânico se apresentarem os sintomas. Compre e distribua álcool gel e sabonetes. São pequenas ações, mas podem ajudar. Olhe o seu entorno antes da corda estourar.
O que eu posso fazer por mim
Se você é uma pequena empreendedora e terá o seu negócio afetado pelo coronavírus, busque informações e ajuda de investimentos que já estão rolando para manter o seu negócio funcionando. Clique aqui e veja essas indicações do Sebrae, por exemplo.
Mantenha a sua saúde mental. Enquanto eu escrevo esse texto (17/03/2020 às 10h45), recebemos a informação que na cidade de São Paulo aconteceu o primeiro caso de morte pelo COVID-19. Essa informação já nos deixa abalados, nas próximas semanas, a previsão é que os números aumentem muito e isso pode causar um pânico generalizado. Então, é hora de criar uma nova rotina de cuidados com você e com as pessoas que estão ao seu redor, como meditação, leitura, orações, alimentação, cuidados e carinhos. O que se prevê é que o período de isolamento vai aumentar, mais pessoas vão se contagiar e muitas pessoas vão morrer. Pense em como se manter sã nesse cenário e conte com a gente para conversar!
Agora mais do que nunca é o momento de utilizar o nosso privilégio para proteger as pessoas que não têm privilégio nenhum. Agora é hora de olhar para os lados, para trás e oferecer ajuda, compartilhar conhecimento e generosidade. É hora de ser compreensiva e entender quem é que está do lado mais fraco dessa corda!